Sem oxigênio para tratar seus pacientes, que estão morrendo asfixiados, e se valendo de escavadeiras para abrir covas para dar conta de enterrar as vítimas do novo coronavírus, Manaus enfrenta agora as consequências de um fim de ano de aglomerações, da falta de atenção a alertas de empresas e especialistas e de protestos contra iniciativas para o fechamento da cidade —estes com apoio de Jair Bolsonaro (sem partido).
''Sei que a vida não tem preço, mas não precisa ficar com esse pavor todo. Vi que o povo em Manaus ignorou o decreto do governador do Amazonas.
Pouco mais de duas semanas depois, a cidade sufoca. Moradores da região metropolitana de Manaus correm com cilindros vazios e enfrentam filas buscando oxigênio para tratamento. Pacientes tiveram de ser transferidos a outros estados.
À medida que o vírus avança, cidades do interior —muitas delas sem leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva)— veem seus estoques de oxigênio chegarem perto do fim. Apesar de o abastecimento ter aumentado nos últimos dias por causa de embarques de outros estados e uma doação da Venezuela, o Amazonas vive uma explosão de casos, que podem estar relacionados a uma variante do vírus, mais contagiosa, detectada na região.
''Tudo aqui está um caos. Tem gente morrendo por asfixia, eu presenciei quando visitei minha mãe. As pessoas já chegam em estado muito crítico e não são atendidas por que não tem vaga.
Em um mês, a média de óbitos no Amazonas saltou de 15 para 118. Isso representa um crescimento de 217% em relação a duas semanas atrás. Segundo o boletim epidemiológico da FVS-AM (Fundação Vigilância em Saúde do Amazonas), ontem foram registrados 2.202 novos casos da doença no estado e 67 óbitos.